10/02/2018

Casa dos Arrábidos (antigo Convento dos Frades Arrábidos, contíguo à Capela de Santo António)


Originalmente implantado na área peri-urbana de Torres Novas, o conjunto monumental integra o edifício conventual propriamente dito, a capela de Santo António, a cerca que detinha um extenso olival, a fonte de São Luís, localizada num dos limites da propriedade, e ainda uma pequena ermida de espaço único centralizado e abobadado.
As suas origens recuam aos meados do século XVI e à acção do Duque de Aveiro, D. João de Lencastre, nobre que demonstrou grande apreço pelo estilo de vida e observância dos frades arrábidos (cuja primeira casa em Portugal havia sido fundada em 1542 na Serra da Arrábida). Em 1561, o duque determinou a criação de um pequeno convento consagrado a Nossa Senhora do Egipto, perto da sua vila de Torres Novas, entre as localidades de Marruas e Liteiros. O plano arquitectónico da instituição foi da responsabilidade do provincial, Frei Martinho de Santa Maria, que concebeu um convento "em tudo muito pobre e pequeno, de paredes de adobe e madeira tosca que compreendia um dormitório com algumas celas muito estreitas" (JOAQUIM, 2004, p.5, inédito). Durante 32 anos, a comunidade viveu em condições muito precárias até que, em 1593, os menos de dez frades que ali viviam foram transferidos para o actual conjunto.
Este foi fundado em 1591, no lugar de Berlé, por patrocínio de D. Álvaro, sobrinho de D. João de Lencastre, e de outros nobres e homens socialmente relevantes na região. No entanto, a rapidez da construção e a menor qualidade dos materiais empregues, determinaram que cedo o conjunto entrasse em degradação, o que motivou novas obras gerais por volta de 1639, por empenho de Fr. António de Moura, guardião da comunidade.
A igreja conventual é o principal elemento arquitectónico do conjunto. É antecedida por narthex de acesso por tripla arcada ocidental, de arcos em asa de cesto, desenvolvendo-se, superiormente, a fachada principal do templo, com janela central do coro e coroamento em empena de andares, com cruz a eixo e dois pináculos nos ângulos. O templo é de nave única e serviu, durante séculos, de local de enterramento para importantes figuras torrejanas. O coro-alto adossa-se à frontaria e as paredes da nave encontram-se forradas por azulejos azuis e brancos datados da primeira metade do século XVIII. O arco triunfal, a pleno centro, é ladeado por dois retábulos de corpo único, de perfil já neoclássico, e encimado por sanefa de talha onde descarrega composição rectangular de talha dourada com medalhão central. A capela-mor é quadrangular, rematada por retábulo de talha branca, igualmente neoclássico.
Das dependências conventuais, pouco é o que resta de original. Em algumas delas ainda subsistem elementos de pintura mural com motivos vegetalistas e a área habitacional comunicava com a capela através de dois corredores. Em 1662, junto à portaria do convento, os frades erigiram uma Enfermaria, que permitiu que os habitantes de Torres Novas não tivessem de se deslocar a Santarém.
Apesar de não existir ainda um estudo monográfico rigoroso do conjunto, consta que o terramoto de 1755 afectou decisivamente o convento, "tendo-se desmoronado um lanço da abóbada do claustro e a parede da capela do lado norte abriu fendas, ameaçando ruir" (IDEM, p.10, inédito). Terão sido esses problemas a estar na origem das obras então realizadas, que reformularam, por exemplo, os elementos devocionais do interior da igreja. Em 1834, o convento foi encerrado e, três anos depois, a sua posse passou para Luís de Atouguia Sousa Coutinho, nobre vizinho da comunidade e cujos antepassados repousavam na sua igreja. Em 1867, o conjunto passou para a Santa Casa da Misericórdia de Torres Novas, que promoveu algumas obras. Todavia, em 1920, a propriedade foi adquirida pelo militar José de Sousa Moreira, mantendo-se, até à actualidade, na posse dos seus herdeiros, que a transformaram em unidade de turismo, dotada de 5 quartos duplos, salão, bar, piscina e transformação da área rural em zonas de lazer.

Webgrafia: Património Cultural - Direção-Geral do Património Cultura



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